Inveja, a Arma dos Incompetentes

Inveja, a Arma dos Incompetentes

Irmão Wagner Veneziani Costa
ARLS Madras n. 3359 / GOB – SP

Meus Caros Irmãos,Minhas Cordiais Saudações…

    Nesse fim de semana fiquei pensando em como poderia transmitir aos Aprendizes de nossa Ordem, um pouco mais de conhecimentos, Educação e Cultura. Viajando nesse meu pensamento veio muito forte um dos vícios mais comuns cometidos pelo desejo e que está empregnado na mente humana… A Inveja! E a primeira pergunta foi: Como o ser humano pode ter sentimentos tão pequenos, tão mesquinhos?… E entre tantos sentimentos egoistas, o que mais chamou a atenção foi a “Inveja” e o que ele pode causar… Eis um dos sentimentos mais torpes e difíceis de serem eliminados da alma humana. Trata-se de um dos vícios que mais causa sofrimento à humanidade. Onde houver apego à materialidade das coisas, notadamente em seu significado, naquilo que o objeto de desejo simboliza em termos de bem-estar e status quo, aí estará a inveja, sobrevoando os pensamentos mais íntimos, qual a um urubu ou abutre insaciável, esfomeado pela carniça. A cobiça é o seu moto-contínuo.

    Os Espíritos que perturbam a nossa relativa felicidade, erroneamente chamados de obsessores, a fim de nos ver nivelados ao seu estado de inferioridade moral, agem movidos pela inveja. Quantos reis e rainhas não foram massacrados, mortos em circunstâncias misteriosas, efeito direto dessa viciação moral? A chamada “puxada de tapete”, que ocorre nas empresas, nos vários locais de trabalho, inclusive na família e onde quer que se reúnam pessoas, sempre acontece sob inspiração desse vício hediondo e asqueroso.

    Segundo alguns dicionários a inveja é:

   A acepção desta pequena palavra, contida no dicionário Aurélio, é deveras interessante. “Desgosto ou pesar pelo bem ou pela felicidade de outrem. Desejo violento de possuir o bem alheio.” ”O desejo por atributos, posses, status, habilidades de outra pessoa gerando um sentimento tão grande de egocentrismo que renegue as virtudes alheias, somente acentuando os defeitos. Não é necessariamente associada à um objeto: sua característica mais típica é a comparação desfavorável do status de uma pessoa em relação à outra.

    A origem latina da palavra inveja é “invidere” que significa “não ver”. Entretanto, a inveja não é uma característica intrínseca do gênero humano ela é fruto do egoísmo, em uma sociedade concorrencial.

   Os indivíduos, em contraposição, disputam poder, riquezas e status, aqueles que possuem tais atributos sofrem uma reação dos que não possuem, que almejariam ter tais atributos, isso em psicologia é denominado formação reativa: que é um mecanismo de defesa dos mais “fracos” contra os mais “fortes”.

    Numa outra perspectiva, a inveja também pode ser definida como uma vontade frustrada de possuir os atributos ou qualidades de um outro ser, pois aquele que deseja tais virtudes é incapaz de alcançá-la, seja pela incompetência e limitação física, seja pela intelectual.

    Torna-se necessário, contudo, diferenciar a inveja, a cobiça, da busca do bem-estar. Não há nada de errado em trabalhar para se conquistar o conforto necessário à subsistência e às condições materiais imprescindíveis, visando o aprimoramento e a eficiência em determinada atividade, sem causar prejuízo ao próximo. Se alguém possui um objeto ou uma virtude que nos falta, desejá-los com humildade e sinceridade não é inveja.

      Todavia ela surge, graciosa e sedutora, quando sentimos uma sensação de perda, um vazio não preenchido pelo objeto de desejo, principalmente quando, numa formulação mental mesquinha e destrutiva, nos consideramos muito mais dignos do que aquele que possui o que não temos. Se o sentimento de surpresa diante de uma obra, de um feito ou de uma rara virtude for digno e generoso, não há inveja. Trata-se apenas de um incentivo, um grande estímulo para que nos empenhemos em adquirir novas virtudes, produzir quadros mais belos se formos artistas, textos mais requintados se formos escritores, tortas mais saborosas se formos um mestre-cuca.

     O Espiritismo nos ensina que as pessoas que agem de modo desinteressado, com benevolência e ternura, de forma natural, sem afetações, sem hipocrisia, são como velhos guerreiros que no passado já autoconstruiram e conquistaram sua grandeza moral. Ter o desejo de se comportar como essas pessoas não é inveja. Se fosse, seria uma inveja deveras singular.

      Como podemos combater esse Vício?

      Com virtudes…

   A virtude é um traço de caráter que é valorizado socialmente. Uma virtude moral é um traço que tem valor moral associado. A virtude, tem origem na Grécia com a palavra areté, que também pode ser traduzida como excelência. Foi traduzida para o latim como virtus, que é a sua raíz em português. Vale salientar que nas culturas orientais a noção de virtude surgiu há muito tempo atrás, com a capacidade de realizar ou oferecer vida.

      Virtude, segundo Aristóteles, é uma disposição adquirida de fazer o bem. Segundo Joaquim Clotet, é a forma de agir que enobrece a pessoa, que a aperfeiçoa. O contrário é o vício, que degrada ou destrói a pessoa.

     De acordo com Aristóteles, as virtudes se aperfeiçoam com o hábito (Ética a Nicômacos. Brasília: UnB, 1992).

     Sócrates propunha que: “Tudo é conhecimento, inclusive a justiça, a temperança e a coragem – o que tende a demonstrar que certamente é possível ensinar a virtude” (citado por Shattuck R. Conhecimento Proibido. São Paulo: Companhia das Letras, 1998:20).

      Voltaire, em uma carta a Frederico, o grande, em 1737, escreveu que: “a virtude, o estudo e a alegria são três irmãos que não devem ser separados”.

      As principais virtudes listadas por André Comte-Sponville (Pequeno Tratado das Grandes Virtudes. São Paulo: Martins Fontes, 1997) são:

  • Polidez
  • Fidelidade
  • Prudência
  • Temperança
  • Coragem
  • Justiça
  • Generosidade
  • Compaixão
  • Misericórdia
  • Gratidão
  • Humildade
  • Simplicidade
  • Tolerância
  • Pureza
  • Doçura
  • Boa-fé
  • Humor
  • Amor

     É uma proposta individualista.

    Este modelo tem como crítica maior o fato de ser muito difícil, segundo alguns autores, desenvolver virtudes em pessoas com desenvolvimento psiológico-moral já avançado, como os profissionais de saúde já formados ou em formação. Emmanuel Kant dizia que as virtudes se aprendem no colo da mãe. Comte- Sponville acredita que as virtudes podem ser ensinadas principalmente através de modelos de identificação adequados.

    Marguerite Yourcenar, in ‘Memórias de Adriano’ escreveu: “Não desprezo os homens. Se o fizesse, não teria direito algum nem razão alguma para tentar governá-los. Sei que são vãos, ignorantes, ávidos, inquietos, capazes de quase tudo para triunfar, para se fazer valer, mesmo aos seus próprios olhos, ou simplesmente para evitar o sofrimento. Sei muito bem: sou como eles, pelo menos momentaneamente, ou poderia tê-lo sido. Entre outrem e eu, as diferenças que distingo são demasiado insignificantes para que a minha atitude se afaste tanto da fria superioridade do filósofo como da arrogância de César. Os mais opacos dos homens também têm os seus clarões: este assassino toca correctamente flauta; este contramestre que dilacera o dorso dos escravos com chicotadas é talvez um bom filho; este idiota partilharia comigo o seu último bocado de pão. Há poucos a quem não possa ensinar-se convenientemente alguma coisa. O nosso grande erro é querer encontrar em cada um, em especial, as virtudes que ele não tem e desinteressarmo-nos de cultivar as que ele possui. “

    Sócrates (470-399 a. C.) – O estudo da virtude se inicia com Sócrates, para quem a virtude é o fim da atividade humana e se identifica com o bem que convém à natureza humana. Na sua conceituação, comete dois erros: 1) confunde a ordem moral com a ordem do conhecimento; 2) exagerado otimismo.

    Platão (429-347 a. C.) – Desenvolve a doutrina de Sócrates. Apresenta a virtude como meio para atingir a bem-aventurança. Descreve as 4 virtudes cardeais: a sabedoria, a fortaleza, a temperança e a justiça.

     Aristóteles (384-322 a. C.) – Ao conceito já esboçado como hábito, isto é, de qualidade ou disposição permanente do ânimo para o bem, Aristóteles acrescenta a análise de sua formação e de seus elementos. As virtudes não são hábitos do intelecto como queriam Sócrates e Platão, mas da vontade. Para Aristóteles não existem virtudes inatas, mas todas se adquirem pela repetição dos atos, que gera o costume, daí o conceito de virtude moral. Os atos, para gerarem as virtudes, não devem desviar-se nem por defeito, nem por excesso, pois a virtude consiste na justa medida, longe dos dois extremos.

       Cristianismo – A influência da Sagrada Escritura fez com que se acrescentasse às virtudes cardeais, as virtudes teologais. Santo Agostinho diz que “a virtude é uma boa qualidade da mente, por meio da qual vivemos retamente”. Santo Tomás de Aquino diz que “a virtude é um hábito do bem, ao contrário do hábito para o mal ou o vício”.

       Kant (1724-1804) – Entre os filósofos não cristãos dos tempos modernos requer especial atenção o sistema kantiano. Kant, em certo sentido, volta às doutrinas estóicas, enquanto procura formular uma ética que seja fim de si mesma, sem leis heterônomas, nem sanções. Mas a Crítica da Razão Prática, que cria a nova moral, não fala de virtude, mas só de moralidade: esta consiste essencialmente no cumprimento do dever, ou seja, dos imperativos categóricos que a razão autônoma dita. Embora por outros caminhos, caiu no mesmo erro dos antigos estóicos, dando-nos uma ética vazia, que se destrói a si mesma, negando todo legislador, toda sanção, todo o fim ulterior de nossas ações.

        Aspecto Prático da Virtude – Além do aspecto teórico da sua conceituação, estritamente conexo com o sistema filosófico no qual se enquadra a Ética, apresenta um aspecto prático de vivo e permanente interesse: como formar e desenvolver a virtude. É o campo da Psicologia Educacional e da Pedagogia. No educador exige antes de tudo o bom exemplo, tão necessário, especialmente no trato com as crianças, incapazes de longos raciocínios e vivamente levadas à imitação. (Pequena Enciclopédia de Moral e Civismo).

        Creio que este texto é apenas uma pequena introdução ao estudo da Ética e Moral que tanto necessitamos… Percebo também o quanto é importante melhorarmos, cada um de nós, individualmente, para que juntos possamos modificar os que nos rodeiam… Melhorando a si mesmo, teremos condições, e só assim, de melhorar a humanidade…

 

    Artigo de autoria do Irmão Wagner Veneziani Costa

Bibliografia:

http://www.ceismael.com.br/filosofia/filosofia020.htm

http://www.ufrgs.br/bioetica/modvirt.htm

A cabala da inveja, de Nilton Bonder – Editora Imago

A inveja criativa, de Carlos Byington – Editora Religare

Jornal de cultura espírita Abertura, em julho de 1998.

Livro Completo da Filosofia – James Mannion, Madras Editora, 2006.

Livro Completo da Psicologia – Lesley Bolton e Lynda L. Warwick, Madras Editora, 2007.

O Pensamento Como um Sistema – David Bohm, Madras Editora, 2008.